Num acto que tem tanto de politicamente correcto como de uma benignidade patética, “Lula” da Silva, de visita á ilha senegalesa de Gorée, imitou um acto de João Paulo II que, esse sim, foi profundamente inovador.
Ou seja, pediu perdão a África, pelos escravos africanos que foram enviados para o continente americano.
É politicamente correcto porque cai bem na nova sociedade africana que, periodicamente, e há um tempo a esta parte, exige desculpas pública e indemnizações pelos filhos africanos que foram arrancados ao ventre da Mãe África; não esqueçamos que Chissano quando recebeu o título de “Honoris Causa” pela Universidade do Minho voltou a relembrar que os países colonizadores (e esclavagistas) ainda não pediram desculpas públicas pelo ignóbil acto; ou movimentos negros dos EUA que já acusaram Portugal, a par da Espanha e da Igreja Católica, de ser responsável pela escravatura negra e sugerir que sejam pagam indemnizações à semelhança das vítimas do holocausto nazi.
Só que gostaria de saber quem seriam os depositários dessas indemnizações…
É patético o acto porque, nem o Brasil deve-se arrogar de ser o “testa de turco” da América, para se pronunciar em nome do Continente, e nós sabemos que foi na parte Norte do Continente onde se praticaram mais actos de esclavagismo – e não foi até há muito tempo atrás – como nem o presidente brasileiro tem obrigações de índole moral para, em nome do Brasil, dever falar por actos que, na realidade, foram, praticados por outras Nações, em nome da revolução industrial. O Brasil era, tal como outros Estados da região um grande entreposto exportador de matéria-prima para a novel indústria europeia, com particular destaque, para a inglesa, francesa – na altura potência ocupante da região senegalesa, e prussiana (alemã). Há que não esquecer que o Brasil, embora comportando uma população falante da língua portuguesa, é um mosaico etno-cultural de várias Nações que; formam a República Federativa actual.
É patético porque no caso da Igreja Católica e, mais tarde, da Anglicana e da Reformista, que tiveram e foram partes interessadas no esclavagismo (por actos de fé mais que por motivos económicos) o pedido de desculpas e de perdão foi pertinente.
Fica bem enaltecer as qualidades intrínsecas dos africanos; já não fica bem chorar por actos que foram praticados por outros e em nome de interesses, por vezes, inqualificáveis.
Porque é que em vez de se chorar no “leite derramado” não se faz uma verdadeira Conferência multi-nacional e multi-racial e se debate o problema que foi (infelizmente que é, em algumas partes do Continente africano, não escamoteemos) a escravatura.
A ONU seria um local óptimo para se debater a questão.
Mas não seria para pedir indemnizações que essas já estão prescritas; mas sim para louvar a troca de experiências e cultura que um acto de tão absurdo quanto ignóbil permitiu criar grandes Nações e grandes Culturas.
Provavelmente haverão muitos dos que lerem este apontamento que não concordarão ou mesmo verberarão esta minha posição. Todavia, se ela for o princípio de um debate já será muito proveitoso.
3 comentários:
Dentro do não serve para nada rotineiro e politicamente correcto, não acho mal que os impérios peçam desculpa aos povos das colónias de que se serviram... agora, realmente, uma colónia pedir desculpa a outra... oh, Lula, não havia necessidade!... _ abraço, IO.
En México hubo esclavismo pero dirigido casi exclusivamente a los indígenas nativos, bajo la figura de la encomienda (cada terrateniente tenía la obligación de convertir al catolicismo a sus indios y a cambio de tan alto favor debían trabajar para él). Prácticamente no hubo esclavos africanos (sí pero muy pocos). La pregunta para Lula sería, las naciones de América Latina tendríamos que asumir la responsabilidad de lo que hicieron los entonces imperios coloniales (España y Portugal principalmente). Saludo
Não devemos esquecer o passado pelo ponto de vista histórico da formação do povo brasileiro, mas seria de grande valia que reformas fossem feitas com urgência.
A cota nas universidades brasileiras para negros e mestiços (projeto que teve origem no governo FHC) validam a irresponsabilidade dos governos federais, estaduais e municipais com o ensino fundamental e médio.
Os que são considerados brancos padecem do mesmo problema a não ser aqueles que podem cursar colégios particulares e cursos de pré-vestibular.
O fato é que o ensino público no Brasil está deteriorado e essa situação atinge a todos que não tem poder aquisitivo, sejam negros, mestiços ou brancos.
Atinge aos professores mal remunerados.
Um país que não honra com o compromisso da educação não colherá bons frutos e essa situação vem desde a época da Ditadura no Brasil.
Melhor que pedir desculpas é reverter essa situação incômoda com uma política de educação decente.
Cotas na universidade para negros e mestiços me soam como paternalismo ou varrer a sujeira pra baixo do tapete.
Não acredito que negros, mestiços, brancos e pobres queiram esmolas.
Se pedir desculpas “virou moda” vamos aproveitar o dia 19 de abril, Dia do Índio e pedir desculpas, voltar ao passado, ver o presente e tomar medidas urgentes. Não vamos esperar que o colonizador venha pedir desculpas.
Alguns historiadores afirmam que no continente americano havia aproximadamente 100 milhões de índios sendo que 5 milhões viviam em território brasileiro antes da chegada dos europeus.
Com a chegada dos europeus ao Brasil a população nativa foi escravizada. Os que se rebelaram foram mortos
Nossa população nativa padeceu os horrores da escravidão e os que se rebelaram foram mortos, nações foram dizimadas e as poucas que sobreviveram tiveram seus valores culturais destruídos.
Passados 505 anos a situação é caótica nas reservas indígenas.
Nos primeiros meses desse ano morreram 21 crianças indígenas em Dourados, Mato Grosso do Sul, por desnutrição.
A mortalidade infantil e dos adultos não é um “privilégio” dessa aldeia.
Outras tantas padecem do mesmo problema e de outros problemas como a demarcação de suas terras invadidas por posseiros, madeireiros e especuladores.
Vamos, nós brasileiros, pedir desculpas por nossa omissão perante aos poderes públicos. Exigir como cidadãos que a dignidade de todos seja preservada...sejam brancos, negros, mestiços ou índios.
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