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Sob o título "Xenofobia não acontece só em África na Europa já está em marcha" uma análise de João Craveirinha publicada na rubrica "Dialogando" no moçambicano "O Autarca".
Neste artigo, João Craveirinha faz um a comentário sobre ciganofobia em Itália tendo por base um artigo de Isaac Bigio citado no boletim Análise Global, e que, igualmente, se reproduz, com a devida autorização de João Craveirinha:
"ITÁLIA - Roma tem onda anti-Roma (ciganos)
Isaac Bigio*/Especial para BR Press
(Londres, BR Press) - Na Itália nasceu o fascismo e este é, hoje, o único pais da União Européia em que militantes que provêem desta corrente estão no partido do governo e detêm a prefeitura da capital. Roma está se convertendo no centro da maior onda de ataques contra os imigrantes provenientes de países pobres e contra os ciganos, principalmente os de origem romena.
Isaac Bigio*/Especial para BR Press
(Londres, BR Press) - Na Itália nasceu o fascismo e este é, hoje, o único pais da União Européia em que militantes que provêem desta corrente estão no partido do governo e detêm a prefeitura da capital. Roma está se convertendo no centro da maior onda de ataques contra os imigrantes provenientes de países pobres e contra os ciganos, principalmente os de origem romena.
Berlusconi quer criminalizar os “ilegais” e deportá-los tão logo os localize, mesmo que a maioria deles não seja formada por delinquentes, mas faça parte dos quase dois milhões de empregados domésticos e de cuidadores de pessoas idosas ou enfermeiras que vivem na Itália.
O Parlamento Europeu chegou, inclusive, a questionar Roma pela forma como maltrata os roma (chamados vulgarmente de ciganos) e pretende expulsar grande parte de seus 50.000 ciganos romenos (que são cidadãos da UE e por isso gozam do direito de estabelecer-se em qualquer nação do dito bloco). O ódio aos ciganos foi, juntamente com o anti-semitismo, um dos pilares do holocausto nazista. Se a ciganofobia não for detida, se acentuará a onda que se empenha em expulsar os latinos da Europa."
Xenofobia não acontece só em África
na Europa já está em marcha
por João Craveirinha
na Europa já está em marcha
por João Craveirinha
Nota à análise de Isaac Bígio: "Se a ciganofobia não for detida, se acentuará a onda que se empenha em expulsar os latinos da Europa."
Com pode ser possível serem expulsos os latinos da Europa latina. Os Italianos são o quê? Os verdadeiros latinos surgiram na antiga Roma hoje Itália por tal são os latinos nº 1 actualmente. Isso só traz confusão aos leitores pouco informados culturalmente sobretudo da América do Sul, Central e nos Estados Unidos da América. Há uma Europa Latina há milhares de anos.
Atenção ao termo latino na Europa: portugueses, espanhóis, franceses, italianos, romenos, parte dos suíços e belgas e os luxemburgueses, são povos latinos ou latinizados... Por essa ordem de ideias também haverá afro-latinos: os das antigas colónias francesas, portuguesas e espanholas em África e um pouco dos italianos na Etiópia e Somália.
O termo utilizado na América do Sul deveria se referenciar mais como América afro-ameríndia latina e não latina ou de latinos (pois não o são): os mestiços sul-americanos devido ao complexo colonial da cor mais clara e cabelo liso, conotar com superioridade por perto do europeu, não querem misturas com os mais escuros ou morenos das Américas de falas (hablas) portuguesa (Brasil) e espanhola (discriminando os mestizos mais morenos; índios e os negros por toda a América dita latina e nos EUA). Em Cuba, Venezuela e Bolívia também existe discriminação mas de outra forma. Das classes mais poderosas politicamente e economicamente. Note-se Chavez é mestiço negro / ameríndio e Morales é ameríndio com algum cruzamento passado com espanhol e antepassado escravo negro. Os escravos negros foram trazidos à força pelos portugueses e espanhóis para desenvolverem as Américas e se misturaram com o dito índio e o europeu incluindo na América central (México) e nos EUA e Canadá.
Resumindo: Na realidade os verdadeiros latinos só existem na Europa e são europeus.
Xenofobia não acontece somente na RSA ou em África. Na Europa já começou. Era isso se calhar que o Prof. britânico-jamaicano, Paul Gilroy (sociologia da cultura) se queria referir sem ferir susceptibilidades na última conferência que concedeu numa Universidade pública em Lisboa - sobre a Europa se estar a tornar mais europeia. Leia-se “branca”.
João Craveirinha
2 comentários:
É triste que em pleno século XXI ainda haja racistas.
Beijinho
CORRIGENDA PELO AUTOR
Xenofobia não acontece só em África
na Europa já está em marcha
O Autarca
Dialogando
por João Craveirinha
Nota à análise de Isaac Bígio: "Se a ciganofobia não for detida, se acentuará a onda que se empenha em expulsar os latinos da Europa."
Como pode ser possível expulsar os latinos da Europa latina? Os Italianos são o quê? Os verdadeiros latinos surgiram na antiga Roma hoje Itália. Por tal, actualmente, são os latinos nº 1.
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Nota: Xenofobia não tem cor mas o racismo tem cor. Não confundir os dois - pois acabam por se diluir se assim for feito.
Ambos são violentos mas o racismo é duplamente violento. No imaginário de séculos e na acção colonizadora do Eu do outro, considerado inferior.
A xenofobia é anti-estrangeiro mesmo sendo da mesma “cor” epidérmica.
O racismo tem cor diferente e é de cima para baixo na superioridade europeia. Não confundir dos que reagem (mais morenos ou negros ou castanhos) ao se sentirem espezinhados há séculos.
Jean-Paul Sartre dizia ser essa uma forma de “racismo anti-racismo” e a única encontrada pelo negro para se afirmar contra a negação de seu Eu.
Foi assim que surgiu a corrente literária da Negritude que nada tem a ver com um pseudo-racismo negro mas sim com o recuperar da dignidade perdida de ser humano assumindo os epítetos derrogatórios (negro, cafre, narro et cetera) de sua condição imposta de infra-humano nessa assumpção irónica da negação para desfazer o que lhe impõem de cima para baixo e se afirmar não superior mas igual ao branco.
“Democracia, Igualdade e Liberdade: “Porque é que os povos democráticos mostram um amor mais ardente e mais durável pela igualdade que pela liberdade?” Alexis de Tocqueville (1805-1859, França).
É isso aí - no fundo o negro nem democracia queria porque não sabia o que era. Uma coisa importada dos antigos gregos que são europeus. Daí a desconfiança.
O colonialismo veio da Europa. O marxismo veio da Europa. O fascismo veio da Europa.
Essas modernidades vêm da Europa (assim como os dinheiros da corrupção). No fundo mesmo o negro queria (quer) é ser tratado como igual. Lá dizia o Tocqueville e era europeu.
As coisas positivas deixam de ter cor e nação. Passam a ser universais. O racismo e a xenofobia só assim serão superadas.
Saber peneirar na m’benga o capim da mapira.
Exempli gratia:
Adeus à hora da partida
Agostinho Neto
(Poeta-mor de Angola)
“Eu já não espero
sou aquele por quem se espera
(…)
Hoje
somos as crianças nuas das sanzalas do mato
os garotos sem escola a jogar a bola de trapos
nos areais ao meio-dia
somos nós mesmos
os contratados a queimar vidas nos cafezais
os homens negros ignorantes
que devem respeitar o homem branco
e temer o rico”
Agostinho Neto (1974). Sagrada Esperança. Livraria Sá da Costa Editora, Lisboa.
Este poema da Negritude é um manifesto contra o racismo colonial português…ao mesmo tempo e duplamente, associando e dissociando “o homem rico” com a cor da pele.
Uma premunição à Angola independente.
Os poetas são como os gatos. Vem em muitas dimensões: espreitam o passado; vivem no presente; e projectam-se no futuro que para eles já é presente.
Isto agora é um manifesto contra a xenofobia:
“Terra da Canaã
Não, piloto israelita.
Inútil procurares nos incêndios de Beirute
E nos inocentes mutilados pelos estilhaços ardentes
As belas palavras do Cântico dos Cânticos. (…)
Poeta-mor José Craveirinha (10.08.1982 de regresso do Líbano)
F. Mendonça, N. Saúte (1983). Antologia da Nova Poesia Moçambicana (p.211).
corrigenda de João Craveirinha
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