20 maio 2008

A quem interessa os actos anti-emigrantes na África do Sul?

(Imagem via RTP-África)
Há uns dias que reapareceram na África do Sul, mais especificamente, perto de Joahnnesburg, como Alexandra, os maus célebres Necklacing (colares de fogo) com que o Umkhonto we Sizwe, braço armado do ANC, castigava os seus opositores ou os colaboracionistas pró-Apartheid, mulheres são estupradas e lojas incendiadas.
Sob a desculpa de falta de trabalho – há uma taxa de desemprego na ordem dos 23% e –emigrantes zimbaueanos e moçambicanos (já morreram 6 moçambicanos) são perseguidos e mortos por populares sul-africanos.
Desde Janeiro que os ataques aos chamados emigrantes ilegais, ou indocumentados, se vêem registando. E paradoxalmente, ou talvez não, um dos líderes dessa sanha é um antigo refugiado dos anos do regime de apartheid e que voltou ao país sob a protecção do ACNUR.
Os actos já entraram na parte “nobre” da capital do ouro sul-africano.
Mas será que estes actos anti-emigrantes são mesmo derivados ou movidos unicamente por problemas sociais e económicos?
Não esquecer que o ANC vive com algumas tensões internas que se irão reflectir nas próximas eleições.
As disputas entre o presidente Thabo Mbeki, que tem sido tolerante com o Zimbabué, e Jacob Zuma, que quer uma maior pressão sobre Mugabe são por demais conhecidas e poderão aumentar durante a campanha eleitoral.
Também a Congresso dos Sindicatos Sul-Africanos (COSATU) reconhece que os problemas económicos sul-africanos não se devem à emigração; bem pelo contrário. Foi muito à custa desta que, desde há 100 anos, se tem desenvolvido o tecido económico sul-africano.
Não esquecer que cerca de 10% dos 50 milhões de habitantes da África do sul são emigrantes e são esses que têm mantido a crença Mundial de que os sul-africanos conseguirão realizar o Mundial de futebol de 2010.
Estes distúrbios aparecem no momento menos oportuno e que põe em causa a habitual imagem de tolerância tão querida do país do Arco-Íris.
Por isso a pergunta do título é pertinente. A quem interessam estes distúrbios na África do Sul?
Com estes desacatos e a imagem transmitida a comunidade internacional vai, por certo e conveniência de terceiros, se esquecendo do Zimbabué e do Congo Democrático…

1 comentário:

heitor disse...

Moçambique entende que a crise do Zimbabwe está a alastrar

24-05-08
O jornalista moçambicano Fernando Lima, proprietário do grupo editorial Mediacoop, declarou ontem ao PÚBLICO considerar que o que se está a passar na República da África do Sul é um claro “reflexo da agudização da crise no Zimbabwe”, devendo ser exercida pressão para que os líderes regionais olhem mais para os problemas de toda a África Austral.




Num aparente remoque à falta de medidas activas do Presidente sul-africano Thabo Mbeki e de outros políticos do mesmo continente para isolar definitivamente as autoridades de Harare, Lima sublinhou que “não é possível fazer apenas diplomacia silenciosa”. Mas também admitiu que a presente crise possa servir como um “exercício pedagógico” para explicar a quem ainda não o tenha entendido que existem muitas outras formas de violência, “e mais sofisticadas”, para além das que normalmente se costumam associar às práticas do colonialismo e do apartheid.

O regresso de 10 a 15.000 dos moçambicanos que se encontravam a trabalhar na África do Sul está a exercer uma grande pressão sobre as instituições de um dos países mais pacíficos da África, pressão decorrente até do perigo de uma maior criminalidade, notou Fernando Lima, actualmente candidato ao prémio “Jornalista Africano de 2008”, atribuído pela CNN.

O Instituto Nacional de Gestão das Calamidades está a acompanhar os emigrantes de regresso a casa, especialmente nas províncias de Gaza e de Inhambane, no Sul do país, enquanto o Presidente Armando Guebuza pediu aos seus compatriotas que não respondam aos ataques xenófobos de que estão a ser vítimas no território onde tentavam conseguir uma vida melhor.

Ao falar num comício que houve na província de Cabo Delgado, o Presidente de Moçambique considerou a morte de compatriotas seus na África do Sul obra de “alguns provocadores que não querem a amizade entre os dois Estados”, acrescentando que “os problemas têm de ser resolvidos através do diálogo”.

Têm circulado já em solo moçambicano, via telemóvel, mensagens de incitamento à retaliação, o que é considerado particularmente grave pelas autoridades, pois que poderá afectar o turismo que muitos sul-africanos fazem nas praias de Moçambique; e até mesmo os investimentos, muito necessários para o desenvolvimento da antiga colónia portuguesa debruçada sobre o Índico.

J.H.