31 maio 2007

Porque não votamos?

O Governo de Angola, em reunião de ontem e com a presença do senhor Presidente da República, decidiu no alto das suas competências, não autorizar os angolanos na Diáspora votarem ao não permitir que estes se recenseiem por, segundo o ministro da Administração do Território e coordenador da Comissão Interministerial para o Processo Eleitoral (CIPE), Virgílio Fontes Pereira, haver dificuldades de operacionalidade técnica e logística para um correcto(?) recenseamento na Diáspora.
Antes esta desculpa do que aquela que alguns evocavam; da dificuldade de comprovar a angolanidade dos eleitores.
A mesma dificuldade, ou talvez muito menor, que aquela que o Governo angolano teve e terá com os refugiados e exilados provenientes dos países limítrofes. Sabe-se que entre eles tem entrado no País indivíduos que nunca foram ou tiveram qualquer ligação a Angola.
Se não nos poderemos recensear, e estando, segundo me disseram em tempos e como prevê a lei, que haverá representantes da Diáspora com assento na Assembleia Nacional – três deputados, distribuídos por dois círculos, de África e do Resto do Mundo –, como serão eleitos?
Vão sortear entre os partidos mais votados nas legislativas?
Será que a CNE e os seus representantes se vão reunir à volta de uma mesa de poker e de umas quantas e fresquinhas cucas e jogar uma partida de dados cujas faces serão as chipalas dos eventuais candidatos pela Diáspora?
Vamos ser sérios e intelectualmente honestos!
Se não podemos votar também não podemos ser eleitos.
E se não vamos poder ser eleitos como poderemos ver as nossas reivindicações e anseios tratados, devidamente tratados, nos areópagos da Nação?
As Embaixadas e os Consulados podem ajudar. Mas existem questões que os ultrapassam e só um deputado representante dos emigrantes poderá apresentar devidamente nos locais próprios.
Penso que ainda vão a tempo de alterar esta medida. Até porque como prevê Justino Pinto de Andrade as eleições não deverão ocorrer quando estavam previstas mas mais tarde. Pelo menos o recenseamento em Angola já foi prorrogado.
Agora o que no meio desta confusão política, o não se compreende é a surpresa da UNITA face à medida governativa, quando esta, juntamente com o MPLA e, agora, com o Fórum Cabindense para o Diálogo (FCD), faz parte do Governo de Unidade e Reconstrução Nacional, o GURN.
Se não concorda nem é achada nas medidas governativas só terá um caminho a fazer…
Artigo incialmente publicado no /Manchete sob o título "Angolanos de primeira podem votar - Os de segunda não".

30 maio 2007

O segundo estágio de confrontação?

(©foto elcalmeida)
Segundo o Canal de Moçambique, citado pelo Club-K e pelo Notícias Lusófonas, dirigentes sul-africanos do ANC, entre eles um potencial candidato a suceder a Thabo Mbeki, terão preparado com conivências internas angolanas, nomeadamente do antigo chefe da secreta angolana, Miala, o assassinato de José Eduardo dos Santos.
As acusações só por si já são graves. Mais grave ainda quando estas têm por base um documento secreto, datado de 2006, e posto a circular agora por, segundo parece, interesses de partidários do actual presidente sul-africano.
Tão graves que poderão pôr em causa relações institucionais e diplomáticas entre dois países que desejam liderar a região centro e austral de África.
Será que estamos perante o segundo estágio de confronto entre duas latentes potências regionais, ou seja, uma forte crispação entre dois Estados cuja capacidade de projectar influências na região parece cada vez mais evidente e cada vez mais em rota de colisão?
Será que foi para evitar um eventual crispamento e constrangimento diplomático que Angola não terá estado presente, nem se fez representar, ao contrário da África do Sul e ao mais alto nível, na tomada de posse do novo presidente da Nigéria, Umaru Musa Yar’Adua?

Entrevista ao JN sobre as eleições em Timor

O Jornal de Notícias publica hoje uma pequena entrevista que me fizeram relativo ao período eleitoral timorense que agora se iniciou.
Entrevista:
"Xanana como líder do CNRT nada garante" (título do Jornal de Notícias)

(JN) Os cabeças de lista são os mesmos que concorrem às presidenciais. Isso revela o quê? (EA) Mais do que uma eventual imaturidade política ou falta de quadros, o problema timorense, e de todas as independências que não tiveram um período mais largo de preparação e formação de quadros e elites políticas, prende-se com o facto de os actuais políticos timorenses serem os mesmos que já existiam durante o período pré-revolucionário que antecedeu a primeira independência e terminou na ocupação indonésia.

Tudo indica que o CNRT de Xanana vai ganhar. Será? O facto de Xanana estar a liderar o novo CNRT não lhe garante nada. Muitos dos que votaram Ramos-Horta já dizem que não votam CNRT. O eleitorado timorense gosta de castigar os políticos que não provam ter estofo nem capacidade para manter a estabilidade política.

Então a vitória será para quem? A FRETILIN será dos mais votados. Quanto ao CNRT, tenho dúvidas. Xanana não anda de muito boas relações com a Igreja. E, quer queiramos, quer não, foi a Igreja Católica que influenciou a votação presidencial na segunda volta quando "impediu" que Lu-Olo ultrapassasse os 27,9% dos votos do primeiro escrutínio.

E os outros partidos? Não nos esqueçamos de que PSD, PD e ASDT conseguiram na primeira volta das presidenciais um resultado muito perto dos 40%.

E do ponto de vista dos países vizinhos? Aí temos a Austrália, que já se arvora, com o beneplácito dos EUA e do Reino Unido, no "gestor" das questões político-militares da região. A Austrália quer ser a potência regional em todo o subsistema do Sudeste Asiático.

E o petróleo? Este será o grande problema timorense. Caberá ao novo presidente e ao Governo conseguirem manter a cabeça fria face às investidas australianas, e por que não dizê-lo, também indonésias.

A entrevista pode ser igualmente lida aqui onde poderão e deverão também ler uma excelente análise às eleições legislativas timorenses de 30 de Junho. Só se lamenta que o portal do JN não tenha incluído a análise aos candidatos que o suporte papel traz e que seria de muita ajuda para analistas e investigadores que usam, com mais frequência, este suporte informático e, também por lapso, não identificam o entrevistado, talvez pensando que toda a gente conhece a chipala do dito.

Nigéria tem novo presidente ou novo patrão?

Apesar das greves que proliferam no País, a Nigéria viu hoje mudar o novo inquilino do Palácio presidencial no “Dia da Democracia”.
Sai Olusegun Obasanjo e entrou o islamita Umaru Musa Yar'Adua, um claro defensor da sharia, que impôs no seu estado de origem, o de Katsina, a norte do país.
Mas nem por isso o País está mais sereno nem parte da população continua a aceitar a sua eleição.
O prémio Nobel da Literatura, Wole Soyinka, continua a achar que Umaru Musa venceu em eleições pouco claras e por esse facto, hoje não foi dia de celebrar nada. Soyinka foi mais longe e em comunicado afirmou que “O ceú está nublado, sombrio e depressivo onde estou inevitavelmente ocupado neste momento, mas ainda nada tão preenchido com pressentimento como a nuvem escura suspensa sobre a nação nigeriana”.
De notar que entre as ausências institucionais destacam-se as de Angola que não se vê tenha estado representada na investidura – o que talvez não seja tão surpreendente assim –, ao contrário, por exemplo da África do Sul que se representou ao mais alto nível.
Igualmente esteve ausente o Vice-Presidente, Atiku Abubakar, o candidato derrotado nas eleições presidenciais de 21 de Abril.

28 maio 2007

Conferência sobre o Dia de África

Tal como tinha referido no passado dia 25, pelo Dia de África, participei como convidado dos alunos da Universidade Católica de Lisboa, com o apoio do GApA, numa Conferência, que teve um Sarau Cultural em apoio, denominada "África, Rumo a um Futuro".

A minha comparticipação, sob o título "Que futuro para África", pode ser lida integralmente no Notícias Lusófonas que a estampou em manchete.

Foram co-oradores o Professor Leopoldo Amado, da Guiné-Bissau - começou, hoje, brilhantemente, a defender a sua Tese de Doutoramento na Universidade Clássica de Lisboa -, que apresentou uma resenha historicista de África, e o diácono Alberto Castro Ferreira que abordou o efeito do Socialismo soviético, numa primeira fase, e chinês, na fase actual.

27 maio 2007

Há coisas que me ultrapassam

Definitivamente!
Por muito que tente compreender, por muito que faça um esforço nesse sentido não consigo entender como se deixa chegar um Povo a extremos como o que o a Voz de América denuncia e o Angonotícias faz eco.
Como é possível que um mês passado a cidade do Lobito esteja sem água e a Empresa de Águas e saneamento da minha Cidade se mantenha muda e queda? Têm, por vezes, de percorrer 20 Km em busca do preciso líquido e com o Catumbela ali mesmo ao lado, a pouco mais de 3 km…
Como é possível que 5 anos depois do fim da fratricida guerra ainda persistam situações como as denunciadas, ainda por cima numa Cidade onde começa o maior caminho-de-ferro do Pais e da África Austral, a ser reabilitado com chorudos financiamentos e comparticipações chinesas e onde está o maior porto de Angola entre outros símbolos sensíveis?
Como é possível que, pela mesma razão, os hospitais regional de Benguela e a sua extensão do Lobito estejam sem apoios, sem medicamentos e sem recursos para fazerem face aos doentes ao ponto destes serem obrigados a suportarem todas as despesas por faltas de verbas e dos tais recursos.
Todavia, a província de Benguela que poderá ver morrer 5000 cabeças de gado bovino de criadores do Biópio morrerem por falta de vacinação – presume-se, logicamente, a mesma que contempla a falta de água e medicamentos em Benguela e Lobito, por falta de dinheiro – vai importar do Brasil 2500 bois para ser levado a efeito uma experiência(?) – para isto já há dinheiro, já que vai custar cerca de 2 milhões de USdólares – que tem o objectivo de "requalificar" o seu gado tradicional.
Vamos a ter juízo e dar prioridade às prioridades!!!

Devemos enterrar o 27 de Maio!

No dia em que passam 30 anos sobre o chamado “Golpe de Nito” deverá ser altura de “todos os angolanos encerrarem este processo que hoje o matutino português traz para “Tema da Semana” com uma entrevista a um dos comandantes cubanos que, na altura, estava em Luanda – Rafael del Pino, autor de “Proa a la Libertad” (Rumo à Liberdad) – e que apresenta o Golpe como um “jogo de poder” entre cubanos e soviéticos o que vem reforçar a ideia que Agostinho Neto não morreu, em Moscovo, devido à doença que padecia e que levou à mesa de operações mas que terá sido vítima do jogo soviético e, como tal, morto na referida mesa de operações (um assunto nunca cabalmente esclarecido).
Sobre o 27 de Maio de 1977 talvez seja altura de todos os que nele participaram se juntarem num conclave nacional, tipo Comissão de Reconciliação e de Verdade, e todos, mas TODOS, expiarem as suas culpas – aqueles que participaram no Golpe e os que purgaram no pós-golpe –, permitir às famílias enterrarem os seus mortos ou, pelo menos, fazerem o luto oficial – muitas hão que desconhecem onde estão enterrados os seus entes queridos vitimados (foram cerca de 30 mil as vítimas) nas purgas posteriores ao Golpe – e, finalmente, reconciliar a sociedade.
Há que acabar, de vez, com situações como as que conta o jornalista Rafael Marques no mesmo matutino português e dar oportunidade de milhares de famílias obterem as certidões de óbito dos seus familiares desaparecidos.
Não basta dizer que a Guerra acabou quando na Sociedade ainda persistem feridas muito graves por sarar!
Porque uma sociedade onde todos os anos o espectro do 27 de Maio ressurge e sempre com cargas emocionais traumática e, por vezes, desmesuradas, uma sociedade onde não haja entendimento nem reposição da verdade, reabilitação da injustiça, reconhecimento das responsabilidades individuais e colectivas, do pedido genuíno do perdão – e este deve ser feito por todos os que estiveram no Golpe – será uma sociedade castrada.
Citando, uma vez mais Rafael Marques só quando isso acontecer haverá um processo “genuíno de reconciliação” e, finalmente, os mortos poderão “repousar na memória colectiva da sociedade, ser emocionalmente enterrados pelos seus entes queridos e justificar o perdão a mandantes e carrascos”.
É altura de todos olharmos para Angola como um País que enterrou todos os seus dramas.
Assim o queiram! assim o possamos forçá-los!
Artigo inicialmente publicado no

26 maio 2007

Darfur no mês de África

Segundo uma notícia repescada daqui, a ONU afirma que só no 1º trimestre de 2007, 110 mil pessoas foram obrigadas a se deslocarem para fugir ao conflito.
Numa altura em que acabámos de celebrar(?) o 44º aniversário da Unidade Africana e da promoção da a unidade e solidariedade entre os Estados africanos, é bom que alguém nos recorde este ignóbil morticínio, esta horrível situação.
Não podemos deixar esquecer Darfur, como também não podemos, nem devemos esquecer todas as vítimas daqueles que olham para os seus interesses como se estes fossem unicamente razões das as suas quimeras e degustações pessoais.
Mas também que ninguém tenha a coragem de acusar só o outro esquecendo-se de si, porque se as milícias Janjaweed, pró-Cartum, são consideradas como as principais responsáveis das mortes e violações das populações do Darfur, também os rebeldes não estão inocentes quando roubam veículos com mantimentos e outros apoios para os refugiados ou atacam comboios de organizações humanitárias.
Por muito menos alguns países foram invadidos para “Restaurar uma Esperança” que se comprovou ter sido vã…
É altura dos povos de todo o Mundo fazerem sentir ao governo sudanês que não pode evocar razões de Estado para impedir aqueles que o querem(?) ajudar a resolver esta crise interna onde mortos, feridos e deslocados são contados por milhares!

25 maio 2007

E hoje é mais um Dia de África

Como gostava que não fosse mais um Dia mas tão-somente o “Dia”.
O Dia onde se celebrava o fim da Pobreza em África;
O Dia onde de festejava a Igualdade e a Paz entre todos os africanos;
O Dia que exaltava a quase erradicação – também não quero ser mais papista que o Papa – da maioria das Doenças endémicas e potencialmente perigosas;
O Dia onde se louvava o nascimento das Crianças africanas sem que os seus pais sintam qualquer temor de os ver poderem morrer antes do ano ou dos 5 anos;
O Dia em que se enaltece uma África mais Desenvolvida, Industrializada, ou seja, mais Rica;
Como gostaria que este fosse o Dia onde todos os africanos pudessem glorificar o facto de só terem Dirigentes probos, honestos, justos e unicamente virados para o engrandecimento do seu Povo e do seu País.
Até lá, vou esperando que o Dia de África possa um dia ser não mais um Dia…
.
NOTA: Pelo Dia de África um grupo de estudantes da Universidade Católica ,apoiados pelo GAPA, um departamento local de apoio aos estudantes, levou a efeito uma tertúlia cultural onde intervenções de três conferencistas foram intercaladas com danças de raiz africana e música afro-americana.
O debate cultural, subordinado ao tema “África, rumo a um futuro”, teve como oradores o professor Leopoldo Amado, historiador e ensaísta da Guiné-Bissau (um parêntese que penso não me irá levar a mal, o professor Amado vai defender a sua tese de Doutoramento na próxima segunda-feira, na Universidade Clássica de Lisboa, pelas 10,00 horas), o diácono e filósofo Alberto Castro Ferreira e este vosso interlocutor.
A minha prelecção estará, brevemente, disponibilizada nestas páginas ou através da minha página-pessoal (temporariamente acedam-na por aqui).

24 maio 2007

O avião do presidente?


Depois da compra de um helicóptero para deslocações internas, entretanto já desmentido, há quem ande por aí afirmar que ele quer um aviãozinho igual ao da foto para as suas deslocações de Estado, - lógico, só podia sê-lo - porque o custo do aluguer de um avião é muito caro, qualquer coisa como 800 mil dólares americanos sempre que precisa de um.
Mas também para um País tão rico como o nosso, porque é que o Presidente não pode prescindir da sua dotação anual, e gastar qualquer coisa como 100 MILHÕES de Euros (mais ou menos 120 Milhões de dólares) para comprar um!?!?!?!?!
Mas também quando se pensa em fazer uma ponte para ligar a cidade fronteiriça do Soyo, no Norte de Angola, a Cabinda, mesmo passando por cima do Congo Democrático (será que estão a pensar que a RD Congo é um mar e a ligação será directa? é que, caso contrário e a se houver a ideia de ligações intermédias, será sempre um bom pretexto para “invasões” de parte a parte…)
Não há dúvidas que estamos a nadar em dinhero.
Já agora, em nota de rodapé, sobrará algum para que os angolanos no exterior também se possam recensear e, naturalmente, votar nas próximas legislativas? pelo menos nestas...

23 maio 2007

Tristão e Isolda no Reino de Abdera

(“Homem e Mulher Ele os Criou”, Óleo sobre tela de Luiz Tumminelli)

Uma nova Crónica de Gil Gonçalves, a partir de Luanda, nas CRÓNICAS DO REINO DE ABDERA, ALGURES NO GOLFO DA GUINÉ

TRISTÃO E ISOLDA

Não são as Leis da Gravitação Universal. É a atracção universal de dois corpos humanos.
Que insituáveis, permanecem nas cadeias dos regimes totalitários. As cadeias dos queridos guias imortais, que iluminam os caminhos da fome.
Não há condicionantes. Há séculos que as condições continuam aprazíveis… só para aventureiros.
Tristão e Isolda enamoraram-se, namoravam-se. Não como aqueles que namoram e fazem disso uma mera ocupação para passar o tempo. Amavam-se para além das montanhas das suas almas. Muito para além da atracção universal de dois corpos terrenos. Os seus corações eram anormais. Estavam possuídos pela alta voltagem de Tesla, que lhes provocava curto-circuitos, lindos como os amores. Não notaram que construíram uma nave divina, e nela embarcaram para um universo paralelo só deles desconhecido. Tristão de vinte e um anos e Isolda dezasseis. Vizinhavam-se, há dois anos que floresciam no namoro. O pai dela não sabia, saber não podia. Estudavam, o futuro preparavam. Estudantes iguais a quaisquer outros. O Tristão vivia com um tio que o apoiava, como um mar de rosas imenso.
Distraíram-se e Isolda engravidou. Coisa mais natural nos que se amam. Aquele que dá ao outro, o que recebe o sémen consagrado, que depois aparece como um prémio perene de vida. Ou um bonito ou uma bonita, sempre à espera dos ternos e eternos olhares fecundos de carinho, que o espreitam antes e depois do nascimento.
Desabrochavam-se no seu amor que já tinha maturidade. A responsabilidade que aceitavam, a qual era sua fiel companheira. Tristão lembrou-lhe:
- Querida, acho que é melhor desfazeres a gravidez.
- Sim… também já pensei nisso meu amor.
- Sabes… alguns remédios que vendem por aí… acho que são eficientes.
- Já estou a tomar vários… com a ajuda das minhas amigas. Tudo correrá bem. Assim o espero!..
- Concordo contigo. Estudamos, e neste momento não temos condições para suportar um ser que nascerá, e para o qual não temos meios de o sustentar, alimentar. Será mais um esfomeado. Quem nos apoiará? Decerto serás escorraçada de casa. Para onde? E eu? Que estou na casa de um tio?!.. Deixaremos de estudar. Será o nosso fim… se o reino agendasse uma agenda de consenso nacional… um programa de apoio a jovens como nós, isso seria óptimo, como isso não existe, nunca existirá... até um nobre da universidade real quase a destruiu por causa de uma amante. Não concebo que o nosso ensino possa ser um passatempo enganador.
- Tristãozinho… compreendo perfeitamente. As tuas preocupações são a eternidade do nosso amor. Apesar de retirar a semente do meu ventre, que jurei só a ti pertencer, estará sempre livre para nele de novo semeares. Planta neste jardim acolhedor, a semente do nosso universo. Verás depois os frutos saborosos, acolhedores que cairão no paraíso das tuas mãos.
E a vida na barriga da Isolda mexia-se, sentia-se como o peixe na água, crescia, remexia, renascia. Preocupada, mas muito romantizada, como se dos seus lábios nascessem torrentes de jasmins, e o perfume incinerasse o seu amado num lago de lágrimas de amores-perfeitos.
- Tristimania, beneditino, bendito, bento amor, não me sinto bem. Acho que estou com paludismo.
- Vamos procurar ajuda.
- Não vale a pena. Ninguém nos ajudará. Somos apenas jovens que se amam. Quem se preocupa com isso? Pensa nisso minha ternura, minha essência pura. E tudo se enaltecerá.
- Confio em ti, na tua raiz celestial, matriz de amor imperial. Como um asteróide que abriu uma cratera profunda, no profundo amor do meu coração.
Isolda sentiu-se num mar confuso, não lhe corria de feição. Como mangais que oprimem, atapetam a margem da alma marítima, da natural protecção.
A jovem fortaleza do seu corpo está sempre adequada para saltar qualquer obstáculo, em maré de rosas sempre cuidada, regada, e que no esquecimento fica sem rega. Mas que depois recebe a água da vida. Reergue-se e canta a ária do Coro dos Caídos. Não esquece a representação final ao Criador do amor. A flor com e sem dor, sempre feminina, uterina, apta para a fecundação.
Isolda sentiu a sua jasminácea flor jasmim-manga muito murcha. Apesar de muito aromatizada não conseguia resplandecer. Sentia-se como as construções anárquicas, fechadas, sem espaços. Que quando há incêndio, arde tudo porque os bombeiros não têm onde circular, penetrar. Lançou talvez o último pedido de socorro.
- Por favor… leva-me para a maternidade.
Tristão não sabia como obedecer. O que fazer do e no tempo, o que pensar. Sentia o sol apagar-se. Mecanizou-se como adivinho talvez ao último desejo da amada nebulosa.
- Está bem… não deixes o jasmim da nossa primavera da vida murchar.
- Não! A tua fumbalelê nunca murchará. Está rejuvenescida… já rejuvenescia a ecologia. Sempre bem desperta… para ti aberta.
Chegou na maternidade e ficou entregue aos cuidados intensivos. Suspirava, procurava a vida que lhe faltava, do único que a amava. No exterior, Tristão aguardava impaciente. Talvez fosse apenas mais um daqueles trejeitos, sintomas que normalmente as mulheres sentem durante a gravidez. O tempo passava, e as noticias, ele sentia, eram desconfortáveis. Sentiu uma faísca no cérebro. Como se alguém lhe estivesse a enviar uma mensagem. Que estranho... era a primeira vez que sentia tal no seu pensamento. Parecia um pesadelo. Despertou sobressaltado. Não esperou, subiu as escadas empurrando, não se importando com quem lhe aparecia à frente. Sabia onde ela estava. Estacionou e perguntou:
- A Isolda…
O semblante da médica augurava que o ser de crer não se amoldava. Sentiu-se deslocar para a época glacial. A geografia física entonteceu-o, com os seus fenómenos físicos, biológicos e humanos. A médica conseguiu descartar-se:
- Faleceu!
Infelizmente é apenas com esta palavra que as pessoas de todo o mundo, que trabalham nas áreas de saúde respondem. Estão demasiado habituadas à morte. Como se comprassem qualquer produto num qualquer supermercado. Saboreiam com o maior à vontade um bom petisco, ao pé de um cadáver. Saborear a morte é a sua profissão. Perderam os sentimentos. Apenas sentem as pessoas como qualquer objecto. Enquanto funciona é prestável. Quando não nos serve, o destino é o caixote do lixo, a que chamam cemitério. Triste realidade e fim do perecer.
Tristão evadiu-se. Afastou-se da realidade. A querida da sua vida… sem ela? Será engano? Não! Viu, sentiu que ela se despediu, do muro de suporte da vida que ruiu. Não respirava. Lembrou-se que quando deixamos a dinastia da vela vivencial não respiramos. Sentiu a ténue chama que restava da alma do seu amor, já nos idos sempiternos.
Tristão!
Sonharam-me que descobriria o Caminho
Que tudo me seria revelado
Lamento! Não consegui
Deixo-te os meus últimos suspiros
Vão para ti. Vejo tudo tão escuro
Parece noite. Que luar, neste tão estranho lugar!
E contudo tão bonito. Vejo alguém muito longe
Que se apressa. Levita para mim
Tristão! Sinto muito medo! Ah!.. És tu!
Não te demores. Vêm meu ardor
Acolhe-te nos meus braços abertos
Ainda queria viver muito
Mas não me deixaram
Não deixam ninguém viver
Apenas nos resta o sono, sonho eterno
Da nossa infelicidade.
Um tremendo fogo interior percorreu-lhe o corpo. A decisão da morte tão cruel para expiar o sentimento de culpa que sentia… a vingança a uma sociedade desumana. Uma vingança ao mundo que não os soube acolher. Adquiriu a certeza que não adianta mais viver. Mas, não foi ele que cometeu o crime. Infelizmente no reino epidémico é proibido amar. Tudo é proibido. Os nobres têm autorização legal, inquisitorial. Apenas uma coisa não é proibida… a morte. No reino da casa da mãe joana permite-se tudo. Viver para roubar. Viver para morrer à fome.
Pegou num recipiente. Foi numa bomba de combustível e encheu-o com gasolina. Entrou em casa normalmente, ninguém suspeitou das suas intenções. Fechou-se no quarto bem trancado. Ensopou o colchão com gasolina, deitou-se e pegou-lhe fogo. As chamas tomaram conta do seu corpo. Um familiar sente cheiro a fumo. Tenta abrir a porta do quarto, não consegue. Gastaram-se quinze minutos para derrubar a fortificação. Levaram-no rápido para o hospital. As queimaduras eram intensas. Dificilmente escaparia. Pouco depois veio o fim do que nos resta. O convite da morte foi atendido. Contente por roubar mais um jovem, transportou-o para o seu abismo eterno. Os últimos momentos foram uma mensagem de esperança, para a sua Isolda. A quem amou, como poucos sabem fazer. Ao maior, mais puro e único amor da sua vida.
Isolda!
Estou prestes a consumir-me
Nas chamas da gasolina do petróleo
Na escuridão dos cofres públicos gelados
Onde guardam as fortunas invisíveis, insensíveis
Que nos conduzem à morte
O meu, o nosso clamor não será vão
Alguém escutará, redobrará este apelo!
Na noite mais sombria dos tempos
Voltarei, e juntos encantaremos, espalharemos
O perfume humano, da humanidade do nosso Amor
Oh!.. Querida… Voltaremos!
Para aniquilar os tiranos que extinguiram o amor
Vejo para sempre finalmente!
A tua beleza e o teu amor que me seguem
Vem! Para a nossa morada eterna!
Onde não existem noites
Apenas o nosso glorioso Amor
Se fortuna não tivemos na terra
A do céu será o nosso tesouro
O teu silêncio será como uma enciclopédia
Ó Glória! Ó Glória! Segue-nos
Acampa-nos sempre Amor Vitorioso, Virtuoso
Levo comigo o Anel dos Nibelungos
Do nosso amor do ouro em pó
Do símbolo da iniciação dos mistérios do nosso culto
Do casamento que inventaram, com a morte nos casaram
Este enlace que jamais alguém apartará
Como o Rei Leónidas e os seus trezentos espartanos

Gil Gonçalves

22 maio 2007

A eleição de Sarkozy

Artigo publicado no semanário que por razões técnicas só pode ser impresso na edição 115 deste fim-de-semana. um artigo sobre a eleição de Sarkozy e o "novo Maio" que o recém-empossado presidente parece estar a trazer para a França.

"Conforme previam a maioria, ou a quase totalidade, das sondagens, o candidato do chamado neo-conservadorismo euro-americano, Nicolas Sarkozy, venceu a segunda volta das eleições presidenciais francesas face à candidata socialista Ségolène Royal.
O sexto Presidente da V República, Nicolas Sarkozy, filho de imigrantes húngaros – um dos novos países da União Europeia e que, ultimamente tem estado, resultante das diferenças políticas entre o presidente e o chefe de Governo, em convulsões sociais e políticas –, assentou parte da sua campanha na França para os franceses.
Algo muito semelhante às ideias teológicas e fundamentalistas do senhor Le Pen, o candidato da exterma-direita francesa.
Ou seja, Sarkozy considera que a entrada de imigrantes em França deverá ser cerceada e limitada a todos os que conhecerem bem a língua francesa e a cultura do país para onde desejam entrar.
Radical? talvez, principalmente se considerarmos que na “final” estiveram dois “imigrantes”: Nicolas Sarkozy, de ascendência húngara, e Ségolène Royal, natural de Daccar!
Mas, e paradoxalmente, serão os países afro-francófonos que melhor poderão aproveitar esta condicionante. (...)
"

Pode continuar a ler acedendo através da minha página-pessoal, secção "Artigos/Correio da Semana"

20 maio 2007

As eleições para Lisboa

"Depois das incongruências e vicissitudes de quem e, ou, quando cai na maior Câmara Municipal de Portugal, Lisboa – e quase previsível antecâmara pré-presidencial –, depois do Tribunal Constitucional português ter afirmado – quando querem os portugueses são céleres na Justiça e não precisam de meses ou anos para fazerem justiça – que era ilegítimo ter sido marcadas eleições sem que todos – partidos e independentes, porque é nesta única altura que os independentes podem ser livremente elegíveis – pudessem participar, a Governadora Civil do Distrito decidiu marcar eleições para 15 de Julho, ou seja, duas semanas depois.
Compreende-se que assim seja.
Se não pode ser a 1 de Julho porque era difícil criarem-se coligações e os independentes um grupo de qualidade – ora aqui está algo com que alguns dos partidos não se precisam preocupar, basta irem aos seus dependentes para terem logo muitos em bicos de pés –, só poderia ser mesmo a 15 de Julho.
Então a 7 de Julho não vai haver uma manifestação de Cultura na maior catedral de Lisboa, o estádio da Luz, e se alguém se decidisse em período de reflexão fazer uma legítima campanha?
Todavia, pois todavia…
Um dos princípios fundamentais de um qualquer trabalhador que está consagrado constitucionalmente é o "direito às férias". (...)"
Pode continura a ler este artigo no

19 maio 2007

Angola eleita para o Conselho de Direitos Humanos da ONU

(imagem retirada daqui)

Numa altura que em certos países a Diáspora verbera algumas atitudes do governo angolano, eis que as Nações Unidas mostram que nas relações diplomáticas nem sempre o que parece é, mas deve ser.
Há um ano era criado o Conselho de Direitos Humanos (CDH) e logo na abertura eram eleitos países para quem as palavras Liberdade e, ou Respeitabilidade Humana só apareciam nos dicionários ou nos léxicos do areópago que é a ONU.
Ainda assim e durante um ano pouco ou nada – seria bom sinal se não houvesse casos como Darfur, Somália, etc. – deste “gabinete”.
Um ano volvido volta a estar nas bocas do Mundo pela eleição, para o triénio 2007-2010, de Angola, Egipto e Madagáscar, no grupo africano que se juntam à África do Sul; Índia, Indonésia, Filipinas e Qatar, pela Ásia; Eslovénia e Bósnia, pelo grupo do Leste Europeu, substituindo a Polónia e a Rep. Checa; a Bolívia e Nicarágua, na América Latina e Caraíbas substituem Argentina e Equador.
Ou seja, para alguns analistas foram eleitos países para quem as Liberdades individuais são muitas vezes, com razão ou sem ela a História sancionará, questionadas.
Veremos se a sua entrada no CDH não irá permitir-lhes ver os Direitos Humanos de outra forma e entrem como “raposas” e saiam como Países e Pessoas respeitadoras.
Disso o Procurador-geral de Angola parece estar esperançado tal como esta(ão)vam duas das organizações angolanas de Direitos Humanos, críticas do poder, a Associação Mãos Livres (AML) e Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD.
É uma esperança legítima a que me associo.

Eleições em Argélia, os resultados

Tal como se previa, ou se temia, as eleições argelinas tiveram por vencedor a “abstenção” e, por inerência, embora não escrutinável, a al Qaeda do Magreb, força islamita próxima da al-Qaeda.
A abstenção ultrapassou os 65% dos eleitores argelinos.
Por outras palavras os partidos políticos que elegeram os 389 deputados da Assembleia Popular Nacional só representarão 35,65%, número de argelinos, ou seja, tanto quanto aqueles que votaram.
A Frente de Libertação Nacional (FLN) passou dos anteriores 199 deputados para somente 136 – um castigo para a FLN que previa aumentar para além dos 200 assentos –, a União Nacional Democrática (RND) aumentou o número de assentos de 47 para 61 e a espectacular queda do pró-fundamentalista Movimento da Reforma Nacional (MRN) que perdeu 40 lugares elegendo, somente, 3 deputados.
De registar a reentrada da União pela Cultura e pela Democracia (RCD), um partido da região de Cabília, que elegeu 19 deputados, e dos aumentos que registaram o Partido dos Trabalhadores (PTA), da esquerda radical liderado por Louisa Hanoune, de 21 para 26 lugares, e do islâmico moderado Movimento pela Sociedade da Paz (MSP), de 38 para 52 assentos que a tornam, tal como se previa, na terceira força política do Parlamento, permitindo, deste modo, manter a maioria que apoia o presidente – formam-na a FLN, RND e o MSP –, que passou dos 284 deputados para 249.
Registe-se, ainda, que outros indiferenciados partidos elegeram 92 deputados.

17 maio 2007

Eleições em Argélia

O sexto pleito eleitoral argelino, as terceiras eleições legislativas desde que surgiu o multipartidarismo em 1989, está marcado pela violência e pelo efeito “terrorismo”.
Estranhamente – ou talvez nem tanto assim – umas eleições onde os grupos pró-al Qaeda não tinham pedido algum tipo de violência mas tão-somente abstencionismo às mesmas.
Será que as motivações teológicas e sectoriais são mais fortes que as políticas e sociais?
Assim parece.
É que para muitos argelinos, como, infelizmente, para muitos africanos, os Parlamentos Nacionais mais não passam que coito de corruptos, de beija-mãos, de subservientes e de funcionários dos respectivos partidos em vez de serem os legítimos representantes do povo que os elegeu.
Uns, tudo fazem o que o partido do poder determina; os outros, muitas vezes em vez de avançarem com ideias novas e exequíveis – mesmo que pela sua pequenez partidária morram à nascença – limitam-se a dizer mal ou nada dizerem.
E isto é um caminho “maravilhoso” para o compadrio e corrupção, nuns casos, para o terrorismo, em outros.
Por isso não surpreende que um analista argelino afirme que, provavelmente, muitos dos seus concidadãos se absterão, não por causa do pedido da al-Qaeda, mas porque estão fartos de ineptos num já habitual surrealismo eleitoral...
Num universo de 12 229 candidatos inscritos em 1144 listas eleitorais, provavelmente a Frente de Libertação Nacional (FLN) deverá reocupar e reforçar a sua já habitual maioria parlamentar, seguida dos liberais da União Nacional Democrática (RND), e aguardando-se que os islâmicos moderados do Movimento da Sociedade da Paz (MSP) ocupem a terceira posição.
Isto, se os argelinos com a previsível abstenção não provocarem uma revolução no Parlamento e…
Esperemos que então não surja, de novo, uma nova Frente Islâmica de Salvação (FIS) e com isso um novo putsch militar na Argélia.
É que o seu poderoso vizinho do Norte estará com os olhos bem abertos para a antiga “jóia da coroa” bem assim espanhóis e portugueses; o gás natural faz muita falta…
E por falar em Portugal, a comunidade argelina vota cá. Será que os angolanos da diáspora poderão também votar quando for a sua vez?
Igualmente publicado no , de 18-maio-2007

Timor-Leste numa nova orgia de violência?

… E tudo, infelizmente, parece ter voltado ao “normal”.
Se era isto o que queriam – quem é o que menos interessa agora – aí têm os timorenses a digladiarem-se entre si com uns quantos a esfregarem as mãos.
E ainda nem começou a campanha para as legislativas.
Já agora onde está aquela simpática entidade que completou, recentemente, 10 anos e que diz querer defender os supremos interesses da lusofonia?

Incongruências da política portuguesa

Por norma não comento, ou tento abster-me de o fazer, a política partidária portuguesa.
Excepto, como neste caso, se o assunto for questões autárquicas porque são aquelas onde melhor posso intervir e participar como cidadão.
Como se explica que o líder do maior partido político português da oposição tenha verberado – e forçado – à queda de um executivo liderado por pessoas do seu partido, (independentes, ou não, foram por ele propostas) devido ao facto de estarem constituídos arguidos – a tradução inglesa vai ter problemas porque desconhece esta palavra portuguesa – em diferentes processos – arguidos e ainda não condenados – e acaba de nomear como candidato a presidente da Câmara de Lisboa uma pessoa que, segundo a imprensa, está constituída arguida num processo que já terá anos!!!
Incongruências de um líder que parece nunca mais conseguir assentar ideias; que “ganda nóia…”
E depois não se queixem que a juventude está cada vez mais abstraída da vida política!

16 maio 2007

Pesca com granadas?

(um pesacdor santomense, foto via RTP-África; ©Elcalmeida)
Parece mentira e em pleno século XXI mas foi isto o que acabei de ouvir na primeira edição do programa “Repórter” da RTP-África de hoje.
Segundo aquela emissora televisiva portuguesa que, por vezes, nos oferece produtos genuinamente africanos, há no sul de São Tomé quem utilize granadas(?!?!) como instrumento auxiliar de pesca havendo já pescadores e autarquias locais a quererem tomar uma posição de força junto do Governo Central.
Compreendo esta posição.
O que já não entendo é porque precisam de esperar uma tomada de posição do Governo central e não o tomam as autarquias através das autoridades locais e regionais.
E depois como se entende que num País onde, felizmente, quase não houveram crises – e as militares que houveram foram pontuais – existam em mãos de pescadores granadas para uso piscatório.
Quero crer que deverão ser artefactos pirotécnicos com efeitos semelhantes a granadas e não estas. Permitam-me esta ingenuidade em querer crer nisto.
Caso contrário, donde virão elas e como os pescadores têm capacidade financeira – eles que tanto reclamam das dificuldades em vender os seus produtos piscatórios e da difícil sobrevivência do pescado – para comprar granadas?
Que as autoridades santomenses vejam quem anda a armar quem, como e porquê…

13 maio 2007

A Economia do Desenvolvimento (Uma perspectiva sociológica)

No âmbito do ciclo de debates semanais que a Casa de Angola, em Lisboa, está a levar desde finais de Abril ocorreu, no passado dia 12 de Maio uma Conferência sobre a Economia do Desenvolvimento, em África, em geral e em Angola, em particular, que teve como oradores eu próprio e o dr. Joaquim Fonseca, jurista e economista. A minha parte versava sobre a perspectiva sociológica.

Poderão ler, na íntegra, o texto da Conferência acedendo aqui.

O ciclo de Debates, todos aos sábados e ás 16,00 horas, continuará na próxima semana com um sobre a Juventude e no próximo dia 26, e no âmbito do “Dia de África”, a apresentação do livro “Estórias de Angola” de Luís Mascarenhas Gaivão, antigo adido cultural português em Luanda.

Lamentavelmente, e como já começa a ser habitual, houve uma fraca presença de associados e participantes, se bem que os que estiveram souberam honrar a presença dos oradores com questões e observações pertinentes e interessantes. Esperemos que nos próximos debates mais pessoas possam estar presentes.

11 maio 2007

“La expansión con gusto nuclear”

Um artigo no Mario de Queiroz, Inter Press Service, em edição espanhola – ainda não está disponível nas outras versões (já há em português, ver no fim) –, sobre uma possível expansão energética de Angola, através do nuclear.
O acesso ao artigo é condicionado por uma palavra-chave tendo, para o efeito obtido autorização expressa do autor, que agradeço.
No artigo, são citados o professor António Costa e Silva e eu próprio, com um pequeno lapso, estou indicado como “doctorado” mas ainda não tive acesso ao sistema “Engenhex (diploma na hora)” pelo que ainda estou na fase de investigação e elaboração da Dissertação que me conduzirá ao diploma que me certificará como Doutorado.
La expansión con gusto nuclear
Por Mario de Queiroz
LISBOA, may (IPS) - Con pasos graduales, firmes y decididos, Angola se perfila cada vez más como la potencia económica, política y militar africana que puede en pocos años hacerle sombra a Sudáfrica en la región.
El Ave Fénix angoleña ya levantó vuelo desde las cenizas dejadas por las guerras, de independencia contra Portugal (1961-1974) y civil (1975-2002), que devastaron este país hoy con 16 millones de habitantes y que se saldaron con más de un millón de personas muertas y cerca de cuatro millones de desplazadas.
El año pasado registró un crecimiento económico de 15 por ciento y se calcula que ese indicador se duplicará este año.
Los próximos pasos en busca de apuntalar su condición de país fuerte de África serán dados hacia la opción nuclear, para lo que contaría con el apoyo de China según se desprende de las declaraciones a una radio estadounidense hecha por el ministro angoleño de Ciencia y Tecnología, João Baptista Ngandajina, reproducidas por la prensa portuguesa.
Pese a ser uno de los principales exportadores de petróleo del mundo, Angola "tiene limitaciones para la producción de energía, entonces ¿porqué no comenzar a pensar en proyectos que en el futuro, pueden producir energía a partir de fuentes nucleares?", se interrogó Ngandajina, quien descartó de plano que esa estrategia implique el desarrollo de armas atómicas.
El parlamento elabora una Ley de Energía Nuclear, la que una vez aprobada, permitirá el desarrollo de esta opción energética.
El gobierno José Eduardo dos Santos ha reiterado que al comienzo se dará prioridad a los proyectos de investigación y a la formación de cuadros y la nueva ley, según el ministro, "definirá todo lo referente a la adquisición, transporte, uso y almacenamiento que quisiésemos hacer de equipos radioactivos en el país".
Ngandajina reveló que ya fueron identificadas yacimientos de minerales radioactivos, tales como uranio, pero declinó indicar las regiones de Angola donde se encuentran.
En declaraciones reproducidas el 8 de este mes en la versión electrónica del semanario portugués Expresso, el especialista en energía nuclear António Costa e Silva sostuvo que los abundantes yacimientos de uranio existentes en Angola atraen el interés de China, que intentará ofrecer como moneda de cambio, "la formación de cuadros y la apertura de una o dos centrales nucleares"
Costa e Silva, profesor del Instituto Superior Técnico de Lisboa, se confiesa escéptico en cuanto a las posibilidades de Angola para implementar la opción nuclear, debido a la necesidad de contar con tecnologías avanzadas.
Ese avance se hace difícil para un país como Angola, con una economía primaria basada en la exportación de materias primas, por lo cual "ganaría más exportando uranio que desarrollando una política nuclear dentro de sus fronteras", apuntó.
"¿Angola en el club nuclear?", se pregunta el politólogo angoleño residente en Portugal, Eugénio Costa Almeida, doctorado en el Instituto de Ciencias Sociales y Políticas de la Universidad Técnica de Lisboa, una de las voces analíticas más autorizadas de la prensa lusa e internacional sobre temas africanos.
"A pesar de que Angola en este momento es más una potencia local, todo se conjuga para ser a breve plazo, una fuerte potencia regional, dijo en entrevista a IPS.
"Por ahora cuentan más los factores políticos y militares que los económicos, pero con una tendencia concertada a ser una combinación de los tres factores, los que harán de Angola una potencia regional", auguró.
Costa Almeida citó como ejemplo "la importante influencia política de José Eduardo dos Santos, aliada a una fuerte máquina militar, la que consiguió colocar, mantener y consolidar en el poder a los líderes de los dos Congos".
Recordó que en la República del Congo, Denis Sassou-Nguesso "fue ‘derrotado’, en las urnas en 1997 y sólo regresó al poder en 1999 a través de su fuerza militar privada, los Cobras, que derrotaron a los Zoulous, el ejército casi privado del presidente electo Pascal Lissouba, con la ayuda de las Fuerzas Armadas de Angola, según crónicas de la época".
El experto apuntó que también en la República Democrática del Congo, "el apoyo político, militar y económico de Angola permitió que (el presidente, Joseph) Kabila tomase el asiento del poder en Kinshasa" en 2001, ratificado en el cargo en elecciones sólo en 2006.
En Santo Tomé y Príncipe, el poder de Angola "es más evidente en lo económico, pese a que el político no está tan adormecido como se pretende hacer creer", expresó el politólogo.
Citó al presidente de esa pequeña ex colonia insular portuguesa, Fradique de Menezes, cuando al asumir el cargo en 2001 acusó "clara e incisivamente" a Angola de ingerencia en la campaña electoral y recordó que fue Luanda la que en 2003 logró evitar un golpe de Estado encabezado por el mayor de ejército Fernando Pereira.
En la región, "Angola encuentra un fuerte rival en Sudáfrica, que siempre que siente algún protagonismo angoleño coloca a su figura política más importante, Nelson Mandela, como negociador en los diferentes conflictos, hasta cuando éstos son fuera de su zona acción e intervención efectiva, que es el cono austral" del continente, precisó el especialista.
Consultado por IPS sobre si la pujante presencia de China en Angola podrá condicionar los intereses de otros países que allí operan en fuerza, en especial Portugal y Brasil, Costa Almeida subrayó que "no necesariamente, ni me parece que eso vaya a ocurrir", porque Beijing "tiene una visión amplia de sus relaciones" y nunca intentan alejar a eventuales competidores.
"Los chinos actualmente son un pozo sin fondo en la búsqueda y en la absorción de más y más conocimientos que refuercen su predominancia en el actual sistema internacional" y Angola, "que desea consolidar su capacidad y su independencia regionales, no descarta ayudas, vengan de donde vengan, mientras éstas no choquen con sus intereses", opinó.
El especialista en relaciones internacionales subrayó que, como es sabido, la amistad sólo existe entre las personas, "los países no tienen amigos sino intereses para defender", motivo por el cual Angola desea mantener "buenas relaciones con Portugal y Brasil".
Sin embargo, fustigó los complejos que afloraron en los últimos años del imperio luso-africano, "muy en especial en la izquierda portuguesa, que todavía persiste en pensar que colaboraciones políticas, económicas y/o militares, pueden configurar métodos neocoloniales".
En cuanto a Brasil, ese país sudamericano es valorado en Angola "como un importante asociado económico, que, además, presenta la ventaja de hablar la misma lengua y tener casi la misma cultura y que sólo les separa el (océano) Atlántico", indicó.
Las relaciones entre Angola y sus dos principales asociados lusófonos, Portugal y Brasil, "son muy importantes para China, que no sólo no intenta minar esa relaciones, sino en cambio incentivarlas".
Al concluir, Costa Almeida precisó que para ser una potencia regional efectiva, Angola tiene aún un largo camino que recorrer en el sendero de la paz y la democracia, "derribando los últimos obstáculos que impiden su concreción: la corrupción y el vasallaje de la comunicación social, o sea, ganar una libertad efectiva". (FIN/2007)"

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NOTA: Também já está disponível em português no portal da Envolverde sob o título "Angola: A construção de uma potência africana"

10 maio 2007

Com o mesmo DJ…

… ou talvez por isso mesmo, parece que no salão o disco vai mudar mas a música será a mesma.
Os timorenses escolherem e agora terão que arcar com a escolha.
Fizeram-na, de certeza, responsável e conscientemente esperando que todos respeitem a sua vontade, qualquer que ela seja.
Parece que sai Xanana e entra Ramos-Horta, salvo alguma surpresa de última hora como aconteceu na 1ª volta em que parecia tudo definido e quando chegaram os votos interior o resultado era bem diferente…
Esperemos que o DJ, apesar de tudo, respeite a vontade dos “bailarinos” que vivem a norte.
Manter 1000 homens no país porque querem, mesmo que seja sob pretexto de ocorrer umas legislativas calmas é minorar a inteligência e a vontade do povo timorense.
Os australianos parecem que já esqueceram a 2ª Guerra Mundial e a tareia que os japoneses – e mais recentemente, os indonésios, – sofreram nas montanhas timorenses.
Se os políticos, por vezes, têm memória curta, os povos não!
É que os timorenses já mostraram saberem ser pacientes, mas, também, muito sagazes e não gostam que lhes tomem por tolos…
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NOTA: E parece estar confirmado que José Ramos-Horta é o 2º presidente de Timor-Lorosae e pareceu, por uma entrevista dada, em português - repito, em português -, que quer colidir com interesses australianos ao contestar a atitude australiana quanto ao major Reinado.
Das duas uma, ou os australianos - que viram um seu avião de espionagem cair em Timor-Leste - parecem não querer que Reinado seja apanhado vivo - porque será? - ou Ramos-Horta acha que mais vale tê-lo na mão vivo que cantar como um passarinho semi-livre.
Vamos ver como será o resultado final. O certo é que um dos contestatários do ainda premiê timorense, o deputado Leandro Issac disse ter votado em Ramos-Horta sem que o incomodassem.

09 maio 2007

Angola no clube nuclear? - artigo

Tal como já tinha referido num apontamento anterior, Angola, que já é membro da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) desde 1999, parece se preparar para entrar no clube dos países com energia nuclear.
Na altura referi que parecia ser o momento para recuperar um artigo que escrevi em Abril de 2003, por ocasião da intervenção norte-americana no Iraque e pela sua nova doutrina de tudo questionar o que fosse susceptível que colocar em causa a super-hegemonia dos Estados Unidos da América.
O texto, em questão, foi enviado para o Jornal de Angola não o sabendo se alhguma vez foi ou não publicado.
Em qualquer dos casos pela oportunidade aqui fica o texto, entretanto, ontem publicado na minha coluna do , sob o título acima que acompanhava uma pequena explicação do mesmo.

"“ANGOLA QUE SE CUIDE”

Quando há algumas semanas deixei no ar a hipótese da emergente Guerra do Golfo II não se ficar somente pelo Iraque alastrando-se por países limítrofes (Síria e Irão) esperava que a Coligação tivesse alguma contenção e, caso mantivesse a sua atitude de prolongar o conflito por aqueles Estados, o fizesse o mais tarde possível.
Todavia, constata-se que essa não é o pensamento do membro mais poderoso, ou mais beligerante, da Coligação. De facto, desde o final desta semana que a Administração Bush, quer através do seu presidente Bush, quer por via do Secretário da Defesa, Rumsfeld, ou do doutrinador Secretário-adjunto da Defesa, Wolfowitz[1
], vem deixando no ar a hipótese de “punir” a Síria, um dos “parceiros do Eixo do Mal”, reconhecendo-a, agora, como um Estado ditatorial mas, acima de tudo, um Estado fomentador e co-financiador de movimentos terroristas anti-israelitas – o Hezbollah é o caso mais evidenciado, por também apoiado pelo Irão -, guardião de material bélico químico-biológico e de acoitar antigos membros e dirigente políticos iraquianos.
Mas porquê a Síria e não o Irão. O maior inimigo dos norte-americanos e com quem mantém uma questão de vingança nunca resgatada. Além de tudo mais, os iranianos são os maiores defensores do islamismo e dos maiores financiadores movimentos anti-judaicos e, ou, não-cristãos.
É simples; a Síria está próxima do Estado de Israel e vem reclamando, ao um tempo a esta parte como contrapartida de um abrandamento de atentados contra Israel a partir do Líbano e da Síria, a devolução dos estratégicos Monte Golan perdidos nas Guerras dos 6 dias (1968) e de Yon Kippur (1970). Por outro lado é preciso não esquecer que os principais, e maiores, financiadores dos EUA são financeiros judeus, ou pró-judaicos, sedeados em New York. Daí que os sírios sejam, ou perfilem-se, como a próxima vítima do neo proto-hegemonismo americano; isto apesar do outro parceiro da Coligação o vir desmentindo sistematicamente essa possibilidade. Os interesses que os britânicos mantém naquele país são muito importantes. Por outro lado, um Estado de Israel muito forte seria o completo redesenhar do Médio Oriente. E isso a Europa nunca iria, de todo, aceitar.
E depois da Síria, será o Irão? a Jordânia – antigo aliado, ou não hostilizador, do Iraque? a Coreia do Norte? – que a própria Rússia, pela voz do seu vice-Ministros das Relações Exteriores, Alexander Lossioukov, já considerou ser uma zona muito complicada e aconselhou os norte-coreanos a colaborarem com as autoridades onusianas? o Sudão, a Líbia? Como referia há dias o meu colega e amigo Prof. Mário Pinto de Andrade, em entrevista à TPA, os EUA começam a sentirem-se como a hiperpotência com falta de um contrapeso à sua crescente influência no areópago internacional.
Mas, e o que pode ter isto a haver com Angola? Qual tem sido a desculpa dos EUA e dos países da Coligação para atacarem, ou veladamente ameaçarem, os diferentes países? Serem portadores de armas de destruição maciça, química e biológica.
Mas dirão que Angola não se enquadra nestes parâmetros. E o Iraque provou-se a existência de armas deste calibre? Até agora parece que não. Mas tinha mísseis balísticos; de facto. Tal como a Síria, como o Irão, como a Coreia do Norte, como a China, como a Rússia, e como os EUA ou o Reino Unido. Só que estes cinco últimos têm-nos intercontinentais.
E Angola, só deverá ter uns pequenos projécteis balísticos de curto alcance. Alguns poucos SAM6 dos primórdios da Guerra-Civil. De facto. Mas podem ser carregados com uma qualquer bactéria. É que Angola, como qualquer Estado que se quer desenvolvido, e utilizando a sua “massa cinzenta”, deverá querer criar laboratórios para estudar e desenvolver meios veiculares que protejam a sua população de diferentes endemias, como a cólera, a febre amarela, a malária, etc. Ora estas endemias para serem combatidas têm de ser armazenados alguns genes para, mais tarde, poderem ser feito vacinas. Pois essa armazenagem, na concepção de alguns dirigentes americanos, tornam esses Estados em potenciais Estados do Mal, por portadores de agentes químicos.
E com a solidificação da Paz, Angola começa a perspectivar-se como uma potência local... E de potência local a potência regional com capacidade de projecção... É preciso que eles deixem. Uma vez mais vou beber às palavras do analista e académico Mário P. de Andrade “... é necessário criar um contrapeso à crescente influência dos EUA no Mundo.” E a ONU não me parece ser, actualmente, a entidade ideal.
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[1] O Secretário-adjunto da Defesa, Paul Wolfowitz, defende a “Teoria do dominó”, que consiste na mudança completa do mapa político do Médio Oriente. Segundo alguns analistas americanos, esta tese já está a ser implementada, tendo-o sido pelo elo mais fraco, o Iraque.

14-Abr-2003"

Uma nota complementar que foi colocada no artigo do NL:

"Parece que quatro anos depois o texto não perdeu assim muito da sua actualidade. Porque na altura se só pensava em produtos bacteriológicos agora já se pode pensar, também, em ogivas nucleares.
Angola diz que a acontecer o desenvolvimento nuclear será só para fins pacíficos e energéticos.
Mas alguém acredita que os EUA acreditarão nisto?
Basta olhar para o Irão…
"

08 maio 2007

Timor-Leste e a segunda volta das presidenciais

ou
Francisco "Lu Olo" Guterres ou José Ramos-Horta (página só em inglês?), qual deles sucederá a "Xanana" Gusmão?
Ao fim do dia, provavelmente, já se terá luzes sobre quem os timorenses quiseram para os liderar nos próximos anos.
Esperemos que sejam felizes na escolha e que os candidatos saibam respeitar a sabedoria do povo.
E, também, aqueles que estão por fora e de fora - ou deveriam estar - saibam respeitar a soberania da vontade popular, por muito estranha que ela lhes possa parecer ou ser!

Angola no clube nuclear?

Só lhe faltava mais isto para ser olhado de viés por sul-africanos, congoleses e todos os que estão em seu redor.
A fazer fé nesta notícia, e na boa vontade chinesa em ajudar a desenvolver o País, Angola vai de vento em poupa.
Acho que está na altura de colocar aqui um texto que escrevi, em Abril de 2003, sobre a invasão norte-americana no Iraque e que era para ter sido publicado – se o foi nunca o soube – no Jornal de Angola…
Angola a caminho da potencialização regional final....

07 maio 2007

As eleições no sobado da Madeira

(uma montagem sob desenho do “Soba de Malange”, de Neves e Sousa, com um cartune de Cesarina)

Segundo os resultados oficiais já divulgados AJJ voltou a vencer a corrida para o sobado da Madeira com maioria absoluta, reforçando mesmo, em percentagem, essa maioria.
Todavia, é de notar que fica com menos bocas afiliadas para alimentar (passou de 44 para 33) pelo facto do Conselho de Anciãos do sobado passar a ter menos membros.
Por esse facto, também o candidato a soba do PS, felizmente para ele, ficou com menos afilhados a alimentar (passou de 19 para 7); por sua vez a CDU e o CDS mantiveram os mesmos anciãos no Conselho 82 cada) enquanto o BE, o MPT e o PND elegeram 1 membro cada, sendo estes dois últimos ainda jovens anciãos.
Mas como em todas as eleições ditas democráticas, de raiz heleno-europeia, também aqui houve já quem reclamasse do poder absoluta que o soba reeeleito teve durante a campanha para o sobado.
Ele abriu caminhos na florestas, ele arranjou comida para o povo, ele dançou inúmeras rebitas e merengues ao som de sembas e kazukutas – aquilo se não houve, pelo meio, viagra houve de certeza pauzinho e do bom –, ele falou para o coração dos súbditos como só ele sabe, etc.
E por isso houve já quem fizesse queixinhas sobre as atitudes do soba reeleito e dos seus afilhados.
E o interessante é que já há resultados finais e, paradoxalmente, onde ocorrem eleições em regiões em vias de desenvolvimento, ainda não ouvimos os naturais e habituais observadores internacionais da CPLP, de Portugal – estes só vão quando lhes convêm –, da União Africana ou da União Europeia – para uns, se cair alguns fundozinhos, são europeus, para outros, segundo a latitude terrestre, são africanos; vá lá alguém entender este sobado – e da ONU dizerem nada…
Estranho, não é!?
Inicialmente publicado na coluna do , de 7-Mai-2007

06 maio 2007

A recta final para a Timor-Lorosae

(foto SIC/Lusa)
Segundo fazem eco os órgãos de comunicação social o candidato José Ramos-Horta, que corre contra o candidato da Fretilin e presidente do Parlamento, Francisco Guterres "Lu Olo", terá afirmado que “…"a vitória está garantida" nas eleições presidenciais de 09 de Maio com a amplitude de apoios demonstrada no comício final da sua candidatura”, em Dili, onde estiveram presentes o novo presidente do novel CNRT e quase ex-presidente, Xanana Gusmão, três candidatos derrotados na primeira volta e representantes de outros dois, além de líderes de quase toda a oposição ao partido maioritário Fretilin.
Para o candidato Ramos-Horta a vitória embora esteja garantida, "não estou super-preocupado com isso".
Ele lá sabe, mas já não me perece que Howard possa estar tão seguro do mesmo; é que um passarinho ter-me-á sussurrado que, embora pense que ele é protestante, já terá prometido uma velinha a Fátima se a Fretilin for corrida do poder.
É que o outro tipo parece que é duro a negociar assuntos de petróleo…
Mas Ramos-Horta terá também declarado, e se o fez e acredito que o fez, que se "o outro candidato vencer é a democracia que vence e o que é preciso é que haja paz e estabilidade no país"; é muito bonito, só não sei se Howard concordará com ele…
Mas que mostra haver bom-senso e uma atitude democrática no candidato, lá isso temos de reconhecer que sim.
Esperemos pelos resultados do próximo dia 9 e que o vencedor saiba-o ser e o vencido faça uso das sábias palavras de Ramos-Horta: “a democracia é que vencerá”; porque como ele diz e o vizinho de baixo não parece querê-lo, Timor-Leste precisa de paz e estabilidade para se desenvolver!

E para todas as mães....

(foto de uma martirizada Mãe do Darfur; daqui)
.
... que gostariam de ter um pouco mais para dar que só carinho!

A todas as Mães!

(foto ©elcalmeida, 2007)
.
SÓ POR ISSO, MÃE*

Mesmo que a noite esteja escura,
Ou por isso,
Quero acender a minha estrela.

Mesmo que o mar esteja morto,
Ou por isso,
Quero enfunar a minha vela.

Mesmo que a vida esteja nua,
Ou por isso,
Quero vestir-lhe o meu poema.

Só porque tu existes,
Vale a pena!


*poema de Lopes Morgado

04 maio 2007

Literatura angolana em alta

(Dois expoentes da actual literatura angolana)
Depois de José Eduardo Agualusa ter sido galardoado, no Reino Unido, com o prémio XII Prémio Independente de Ficção Estrangeira, com a obra "O Vendedor de Passados", agora é Pepetela que vai receber o prémio Escritor Galego Universal 2007, sendo o primeiro autor de língua portuguesa e, em simultâneo, tal como Agualusa, o primeiro africano a obtê-lo.
A literatura angolana e os seus escritores realmente em alta!

03 maio 2007

Mais um dia mundial…

(A Liberdade em Venezuela; montagem com base num desenho de Tomy Chavez)

Hoje, 3 de Maio e por decisão da UNESCO, decorre o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa!
O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa constitui a ocasião para relembrar ao mundo quão importante é proteger o direito fundamental da pessoa humana que é a liberdade de expressão, direito este inscrito no artigo 19º da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Tendo em conta que a violência para com os profissionais dos media é hoje uma das principais ameaças à liberdade de expressão, decidi consagrar o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa 2007 ao tema da segurança dos jornalistas” assim começa a declaração do Director-geral da UNESCO, Koïchiro Matsuura, por ocasião deste dia.
Na Lusofonia, a ONG norte-americana “Freedom House” diz que só Portugal, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe existe uma verdadeira Liberdade de Imprensa.
Moçambique, Timor-Leste, Brasil e Guiné-Bissau são considerados como tendo liberdade parcial – cai Brasil sobe Timor-Leste e Guiné-Bissau (este último a Freedom House deve desconhecer onde realmente fica o país; liberdade parcial? só podem estar a rir com a nossa chipala) – e Angola está entre os países onde a liberdade não existe.
Se num país como Angola, onde embora constitucionalmente a liberdade de imprensa está consagrada, e apesar de ter alguns órgãos independentes que não calam a sua revolta e a sua intensiva verborreia, está entre os que mais calam a liberdade, como se pode admitir que Guiné-Bissau esteja entre os que mantém uma “liberdade parcial”? Volto a afirmar que a Freedom House não sabe onde fica Guiné-Bissau, ou mesmo se sabe que país é Guiné-Bissau…
Há um ano o então Secretário-geral da ONU, Kofi Annan, afirmava “Neste Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, manifesto, novamente, o meu profundo apoio ao direito universal à liberdade de expressão. Vários membros da imprensa têm sido assassinados, mutilados, detidos ou mesmo tomados como reféns pelo fato de exercerem, em consciência, esse direito” sabendo-se que “47 jornalistas foram assassinados, em 2005, e 11 já perderam a vida, neste ano.
E Koïchiro Matsuura, na declaração acima citada, diz a dada altura “Ao longo dos últimos dez anos, assistimos a uma escalada dramática da violência para com os jornalistas, profissionais dos media e pessoal associado. Em muitos países do mundo, os profissionais dos media são perseguidos, agredidos, presos e mesmo assassinados. Segundo as organizações profissionais, 2006 foi o ano mais mortífero, com mais de 150 profissionais dos media mortos.”
Só que, entretanto, em todo o Mundo, e só este ano de 2007, segundo o Repórteres Sem Fronteiras, já faleceram 29 jornalistas ou colaboradores dos média e foram detidos ou feitos reféns 152 outros.
Enquanto isso, muitos há que se pudessem – mesmo entre os chamados países mais “livres” – até os blogues calavam de vez…
Artigo inicialmente publicado no ; o meu 60º artigo para o principal órgão da Lusofonia.