(um exemplo muito actual de um paleodemocrata...)Gil Gonçalves, após algum longo período de ausência, volta-nos a mandar de Luanda, via e-mail, algumas das suas crónicas.
Aqui fica uma, recentemente recebida, sob a "
capa" de
CRÓNICAS DO REINO DE ABDERA, ALGURES NO GOLFO DA GUINÉ.PALEODEMOCRACIAPaleodemocracia é a ciência que estuda os fósseis democráticos.
Aconteceu poucos milhões de anos atrás. Um vulto destaca-se das sombras hostis. É um quadrúpede que se ergue. Admira-se, olha-se, sente-se bípede.
Rodeia-se, espraia os olhos, vê muita coisa. Surgem-lhe os primeiros fulgores de cobiça. Sente-se dominador, bate os punhos com força no peito e celebriza o grito de Tarzan. Alguns dinossauros ainda não extintos paralisam as suas actividades. Intrigam-se nas memórias genéticas pelo retorno do Homo Erectus. Lembram-se do que aconteceu antes. Confraternizam, solidarizam-se, vão para outras paragens porque a paz do pirão foi-se.
Alguns fósseis Paleodemocratas descobertos do Homo Habilis revelam já o talento inato para disputas democráticas. É que nos locais de reunião havia muitos ossos, que sem dúvida provam a utilização sofisticada destes artefactos como meio de pacificação dos espíritos discordantes, do triunfo da minoria e a subjugação da maioria.
O Homo Sapiens (que nome tão estranho, inadequado) recebeu a centelha do raciocínio, do espírito não. As outras espécies esforçavam-se por conviver com tal personagem. Debalde procuraram locais de refúgio longínquos, e depressa verificaram que a saída era o precipício dos suicidas lémures. Apesar dos vigias que alertavam «cuidem-se, vem aí o Homo Destruere!!!» não evitaram a exterminação.
Como Homo Oeconomicus sublimou-se. Menos árvores, mais prédios. A evolução humana é o rápido processo de destruição
Entretanto na margem predial, os contratados Chineses estendem peixinhos no horizontal fio-de-prumo, e o sol ávido seca-os. Duas senhoras idosas observam-nos e lamentam o regresso do tempo perdido.
Contrariando a Teoria da Origem das Espécies por Via de Selecção Natural de Darwin, um fóssil vivo recentemente descoberto, tal celacanto, desafia a imaginação dos Paleodemocratas. O fóssil vivo Australopithecus Mugabis Zimbabuensis que desconseguiu humanizar-se. Um cientista resumiu, apressou-se a comunicar o seu trabalho no Congresso dos Paleodemocratas:
- Liberta-se um escravo, ele liberta-se? Não! Sem formação, o escravo liberto prossegue na servidão. Assim… a África Negra permanecerá eternamente na escravidão, porque não houve libertação. O macaco é livre, o escravo não! A melhor democracia é aquela de fingir. Ainda tem muitas foices, chicotes, martelos e catanas, para ceifar, chicotear, martelar e catanar os verdadeiros democratas.
Gil Gonçalves